Jovens trocam livros por 'leitura digital'
Gerações anteriores só
liam as obras cobradas pela escola; agora, a prática é diferente: são sites,
redes sociais, SMS e e-mails
Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo
No bolso do
jeans, um BlackBerry. Na escrivaninha do quarto, um laptop. Dentro da mochila
da escola, um iPod Touch com conexão wireless. Tudo ao redor dos jovens de hoje
oferece conexão 24 horas por dia nas mais diversas redes sociais. Como deixar
de lado todas as infinitas possibilidades que o mundo digital oferece e se
dedicar à leitura de um livro, com suas centenas de páginas, cheias de palavras
e letras inertes, exigindo concentração para serem decifradas?
Dados do Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) divulgados nesta semana afirmam
que a leitura não está entre as prioridades dos jovens de 15 anos. Nos países
da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 46% dos
estudantes afirmam que leem apenas para obter as informações que precisam; 41%
só leem se forem obrigados; e 24% acham que ler é um desperdício de tempo.
Apenas um terço disse que a leitura é um dos hobbies favoritos.
Apesar dos dados
do Pisa, especialistas em educação e tecnologia discordam da ideia de que o
jovem de hoje lê menos. Muito pelo contrário: afirmam que os adolescentes nunca
leram tanto. A diferença é que, agora, não são só os livros que são
"lidos", mas vídeos, sites, SMS, e-mails e uma gama imensa de
informações.
"O
adolescente lê e escreve muito, comunica-se muito mais por escrito. As gerações
anteriores liam só os livros da escola. Os jovens de hoje não: estão sempre se
informando dentro dessa vida social digitalizada", diz Rosa Maria Farah,
coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.
O que perdeu
espaço na vida dos jovens não é o hábito de ler, mas a leitura formal que os
livros, por exemplo, oferecem. "O texto existe, só que de outras formas, e
agora oferece acesso amplo e irrestrito. A leitura digital é mais lúdica e
interessante porque não é linear e permite uma liberdade multimidiática",
explica Claudemir Viana, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
Segundo Viana,
trocar SMS com os amigos, postar no Twitter e ver recados no Facebook são
atividades mais prazerosas que ler um clássico literário porque dão mais
autonomia. "Se cansar do site em que está navegando, é só abrir um outro
link. Não precisa mais ler página por página, na ordem. Por isso, o que o jovem
está perdendo é a paciência, não a concentração."
O maior desafio
do jovem é lidar com a diversidade de estímulos que recebe de todos os lados -
o que não significa que ele esteja mais distraído, afirmam especialistas.
"O adolescente tem de prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo. Ele
é multifocal e deve se dividir por vários canais", diz a psicóloga Ivete
Palange, da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed).
Dar atenção a
várias mídias sem perder o interesse no conteúdo de cada uma delas é o que
acontece na casa da empresária Hermina Ejzenmesser, de 44 anos. Além do
computador da família, de uso comum, seu marido e cada um de seus três filhos
têm um notebook. Renato, de 16 anos, é o mais antenado: tem iPhone e usa
diversos programas em seu laptop. "Antes, eu até gostava mais de ler
livros, mas fui perdendo o estímulo. Gosto de jornal, mas se você for pegar
para ler no fim da manhã, já está tudo velho", diz Gustavo.
Para Hermina, o
gosto de Renato por tecnologia é positivo. "Ele faz trabalhos em vídeo,
edita e coloca áudio. E estuda muito com os amigos via Skype."
Aptidões
perdidas. Para os educadores, a falta de
interesse pela leitura formal pode levar à perda da habilidade de se concentrar
quando necessário. "O jovem não consegue mais ler um texto inteiro. Ele
não cria essa habilidade porque não precisa mais dela", explica Teresa
Ferreira, psicopedagoga da Unifesp.
Ainda é cedo para
afirmar o quanto isso pode ser prejudicial no futuro. Mas os especialistas
alertam: ler apenas o essencial e aquilo que interessa pode levar à perda da
aptidão para analisar situações com mais profundidade. "O jovem sabe de
tudo o que acontece, mas não aprofunda o conhecimento dos fatos", destaca
a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Programa de Dependência da Internet do
Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti), da USP. "A
dúvida é: até que ponto essa abordagem generalista é benéfica?"
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Leitura
formal
Para os educadores, ler os livros clássicos faz com que as crianças e os jovens consigam formar referências culturais e, portanto, sejam capazes de aprofundar o conhecimento sobre o mundo e analisar os fatos de modo mais profundo. No entanto, a leitura dos materiais impressos, como também são os jornais e as revistas, são arbitrárias e não permitem a interação do leitor com a informação, que é sempre linear.
Para os educadores, ler os livros clássicos faz com que as crianças e os jovens consigam formar referências culturais e, portanto, sejam capazes de aprofundar o conhecimento sobre o mundo e analisar os fatos de modo mais profundo. No entanto, a leitura dos materiais impressos, como também são os jornais e as revistas, são arbitrárias e não permitem a interação do leitor com a informação, que é sempre linear.
Leitura
digital
Para os educadores, a possibilidade de ter contato com várias mídias ao mesmo tempo (como vídeo, áudio, imagem e texto) é o grande trunfo das novas tecnologias. O jovem consegue se comunicar de diversas formas e, por essa razão, nunca leu e escreveu tanto. Porém, ao dividir a atenção entre tantas mídias, o adolescente pode perder a capacidade de focar seu interesse em uma só coisa, prejudicando a concentração.
Para os educadores, a possibilidade de ter contato com várias mídias ao mesmo tempo (como vídeo, áudio, imagem e texto) é o grande trunfo das novas tecnologias. O jovem consegue se comunicar de diversas formas e, por essa razão, nunca leu e escreveu tanto. Porém, ao dividir a atenção entre tantas mídias, o adolescente pode perder a capacidade de focar seu interesse em uma só coisa, prejudicando a concentração.
PRESTE ATENÇÃO...
1.
Jornais. Assinar jornais é uma opção para
motivar a leitura. Educadores sugerem que os pais comentem reportagens
interessantes com as crianças.
2.
Revistas. Comprar revistas para adolescentes,
com temas do interesse dos jovens, pode ser um bom começo para exercitar a
concentração.
3.
Revistas em quadrinhos. Gibis são uma
boa ideia para incentivar crianças muito pequenas a ler, porque contêm imagens
e mensagens curtas.
4. Livros
clássicos. Os pais devem dar o exemplo aos
filhos, lendo bons livros e sempre deixando à vista, em casa, os clássicos da
literatura.
5. Livros
para adolescentes. Obras de ficção e de ação -
inclusive best sellers - são de fácil leitura e costumam agradar crianças de
todas as idades.
6. Sites. É ideal que os pais acompanhem o conteúdo das páginas em que os
filhos navegam, para evitar a exposição a crimes virtuais.
O futuro esta presente, os alunos não querem mais saber de escrever em cadernos,para eles é tudo prático, ou seja internet, relações sociais na web,e desenvolver atividades como já faz as universidades, estudo a distancia.
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